sexta-feira, 15 de março de 2013

O Bom e Velho Rock Brazuca




  Há quem considere apenas rock and roll o que é oriundo dos EUA e da Inglaterra. Mas esquecem-se de que em território nacional muita coisa boa boa já foi produzida. E cada época distinta produzia seus talentos.


CELLY CAMPELLO

 Pode parecer ingênuo para os padrões de hoje, mas Celly Campello foi considerada a rainha do rock dos anos 50. Com dois sucessos avassaladores ( a versão de Stupid Cupid e Biquini de Bolinha) que a possibilitaram apresentar um programa de TV, ela e o irmão arregimentaram um batalhão de fãs. Fãs, estes, que ficaram decepcionados com a aposentadoria precoce da cantora, para se dedicar a seu casamento. Ela seria a parceira de Roberto e Erasmo em um programa da Record, mas sua aposentadoria precoce possibilitou que Wanderléia despontasse como nova sensação da música e parceira da dupla de sucesso.






 A JOVEM GUARDA

  Mas foi com a Jovem Guarda que o rock brasileiro tomava forma, ainda que fortemente calcado no Iê-Iê-Iê dos Beatles. Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia formaram o trio que levou o movimento (que depois virou um programa de auditório na Record) para o país inteiro.

  Além de revelar grandes nomes da música  (como Ronnie Von, Eduardo Araújo,  Wanderley Cardoso, Sérgio Reis, Ed Wilson, Jerry Adriani,  Martinha, Vanusa, e bandas como Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Leno e Lílian, Deny e Dino, Os Incríveis, Os Vips e The Fevers), fez com que o Brasil entrasse em sintonia com o rock, que já tomava conta do mundo.

  Quando Roberto decidiu alçar vôo solo em 1968 (sem o carimbo do movimento), deixando a atração televisiva, a Jovem Guarda começou a minguar. Mas foram quase cinco anos de sucesso, descontração e rock. Ainda que as composições pareçam açucaradas demais para os dias atuais.






  Sem Roberto e Cia, o rock balançou, mas não acabou. Somente mudou sua vertente.


OS MUTANTES

  Em meados da década (66 para 67) conhecemos Os Mutantes a primeira e melhor banda de rock psicodélico do Brasil. Sérgio Dias, Arnaldo Batista e Rita Lee mostravam que podia-se aliar música com atitude.




  Com uma trajetória talentosa e conturbada (como uma legítima banda de rock) seus discos iam do psicodélico (inspirados nos Beatles) até o progressivo, calcado nos discos do Emerson, Lake and Palmer.

  Com a separação de Rita e Arnaldo, o fim do grupo foi inevitável. Mas deixou um legado histórico incomparável ao longo de seis anos de existência ( com a formação original).


RAUL SEIXAS

  Expoente do rock clássico, com irreverência e estilo único, Raul Seixas fez com que o gênero se consolidasse de vez, no Brasil.




  Fã assumido de Chuck Berry, o "Maluco Beleza" se notabilizou como um contestador. Principalmente ao propor uma Sociedade Alternativa, no melhor estilo hippie. Admirador confesso de metafísica e história, via de regra suas obras eram permeadas por temas relacionados a essas correntes.

  Nos últimos anos de sua vida, os vícios (drogas e bebidas) já cobravam um preço muito alto. Raulzito mal conseguia parar em pé em seus shows. A mídia começava a relega-lo a segundo plano. Foi quando, em 1989, um fã o procurou para formar uma parceria. Marcelo Nova, ex vocalista do ótimo grupo Camisa de Vênus, gravou em parceria com seu ídolo A Panela do Diabo, com irreverência e crítica social, bem ao estilo dos dois roqueiros. Uma despedida digna para um maiores nomes do cenário musical brasileiro, que morreria em agosto daquele mesmo ano.


  A DÉCADA DE 70

  Seguindo o ritmo do rock internacional, por aqui também surgiam bandas com rock mais pesado, como o grupo CASA DAS MÁQUINAS.



  Ou bandas classudas como o MADE IN BRAZIL, o JOELHO DE PORCO e A BOLHA que tinham um estilo  próprio e jamais se renderam aos ditames das gravadoras.

  Além do grupo SECOS E MOLHADOS que, se não era puro rock, tinha um estilo que depois veríamos em nomes como Alice Cooper e Kiss. E acabou revelando o talento e a voz de Ney Matogrosso, com seu estilo performático.




  RITA LEE

  Após deixar Os Mutantes, em 1972, Rita Lee se enveredou pela carreira solo sem o mesmo sucesso que tinha com seu antigo grupo. Mas a medida que os discos iam nascendo sua segurança como compositora aumentava. Rita Lee & Tutti-Frutti começava a demarcar território. Mas após algumas brigas internas e quatro discos lançados, Rita seguia seu rumo, agora com o namorado Roberto de Carvalho. Antes de terminar a banda, eles lançam o último álbum que tinha o rock como essência: Babilônia. Um primor de trabalho que apresentava os hits Jardins da Babilônia e Miss Brasil 2000.




  Rita não fazia mais só rock (era assumidamente pop), mas sua atitude era de uma roqueira legítima. Problemas com drogas, com a ditadura, prisão domiciliar, letras contestatórias contribuíam para sua aura de rebelde.

  Com o passar do tempo, passou a se tornar uma artista mais e mais comercial, mas sempre polêmica e vivendo de seus sucessos de outrora, quando se falava em "Rainha do Rock".

  Atualmente aposentada, ainda mantém a postura irreverente e suas aparições e entrevistas.


O  CIRCO VOADOR E OS ANOS 80

  O cenário dos anos 80 não parecia promissor, senão fosse por um lugar no Rio de Janeiro chamado "Circo Voador".

  Em 1982 a lona era oficialmente baixada para apresentações de nomes que viriam a marcar uma geração: BLITZ (com Lobão de baterista), BARÃO VERMELHO, KID ABELHA, LOBÃO (na carreira com Os Ronaldos), LULU SANTOS. Ali era o 'marco zero' do rock dos anos 80.

  R.P.M e GANG 90 também tomavam conta das rádios pelo país adentro.





  Enquanto isso, em outras praças, pelo Brasil o "movimento" se espalhava. Em São Paulo: Titãs, Ultraje a Rigor, Mercenárias, Ratos de Porão, Inocentes, Ira! e o Golpe de Estado. Em Brasília: Aborto Elétrico (que depois se dividiu em Legião Urbana e Capital Inicial), Plebe Rude e Paralamas do Sucesso. Na Bahia: Camisa de Vênus. Num segundo momento, no Rio Grande do Sul: Engenheiros do Hawaii e Garotos Podres. Enfim, o rock rompia barreiras, fronteiras e contagiava o país.

  ANOS 90 E O OCASO DO ROCK

  Apesar de bons nomes como Raimundos, Pato Fú, Skank e Penélope, o cenário roqueiro no Brasil minguava com o interesse cada vez maior das gravadoras por músicas de gosto duvidoso, como Lambada, Pagode e Sertanejo. Os nomes do cenário musical dos anos 80 não conseguiam mais emplacar e com isso, o gênero perdia espaço sensível na mídia.

  Conjuntos, outrora de peso, penavam para conseguir manter o nome na mídia. Muitas recorriam ao estilo Acústico (da MTV) para conquistarem fãs.

  Mesmo em um novo milênio, as clássicas bandas mantiveram o nome, mas não a grandeza. Perderam a gana, a atitude. Os bons nos deixaram precocemente (Renato Russo, Cazuza, Júlio Barroso) e ficou um legado difícil de igualar. Algumas formações originais foram mantidas, outras se separaram, voltando mais a frente, quando as condições do mercado fonográfico possibilitavam.

  O certo é que a nossa música já viveu dias melhores e, tal qual o cenário internacional, o rock and roll já viveu dias de glória, também em âmbito nacional.


  Leia também:

O Zepelim de Chumbo

OUTUBRO DE 1996

PINK FLOYD – THE WALL



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